quarta-feira, setembro 10, 2008

Fazes-me Falta.

Hoje acordei e senti
o cheiro quente do teu amor
a esconder-se por entre os lençóis.
Quis agarrá-lo,
quis abraçá-lo,
quis encontrar-te ali e condensar
a tua ausência num só
sopro de ternura
que pudesse trazer sempre
comigo.

Quis deixar a saudade
passar
a doçura da tua mão
pela inquietude destes
lábios
que anseiam pintar
o rubor
dos teus.

Quis guardar
o calor da tua tez
sussurrado
no meu ouvido
como o suspiro de quem está
apaixonado.

E quis ficar assim,
a sonhar,
a deixar que
a beleza que deixas em mim
me envolvesse
nos seus laços
e me deixasse viajar pela
verdade do teu olhar,
pela brisa saborosa do
teu toque,
pela pureza
e certeza
do nosso
amor.

sábado, setembro 06, 2008

Asas para voar.


Acordas-me.




Sinto o leve sussurro do teu respirar na minha pele.
Sinto o abraço do teu suave amanhecer.

Caminho por estas ruas cheias de caras que não conheço mas às quais, súbita e inesperadamente, tenho vontade de mostrar o (e)terno sorriso que tu fazes viver em mim. Percorro as linhas incertas deste teu mundo perfeito que encaixa na imperfeição do meu coração. Perco-me no calor da luz que espreita a cada esquina, a cada encosta, a cada pulsar do sangue que corre nas tuas veias.

Sinto-te dentro de mim como se sente o amor.

Trocamos palavras, gestos, olhares. Arrepios e tremores de voz. Sorrisos. E gargalhadas... Gargalhadas genuínas. Estonteantes. Sedutoras.

O teu toque canta-me ao ouvido aquela música que me faz fechar os olhos e querer voar. Gosto tanto de pegar nas asas que desenhaste comigo e voar...
Um dia cheguei até ao fundo do horizonte!
E consegui abraçar a ternura das tuas mãos...

[a cidade fica tão mais bonita quando caminhas a meu lado...]

sábado, dezembro 16, 2006

Lights will guide you home.


Luzes intermináveis brilham em
silêncios incontornáveis
próprios de quem tem medo.
Ao fundo, o mundo parece fugir por entre
encostas esguias,
estradas infinitas,
recantos sem fim.

Um sopro de luz envolve-me; o toque de uma voz recorda-me
que por vezes aquilo que é mais natural
rege-se pela anti-naturalidade constante na sua presença...
Desdobra-se em momentos sem nexo, palavras fulgurantes que
surgem em catadupa sem terem um significado concreto,
mas que significam tanto para quem as vive e as sente...

Talvez pudesse agarrar uma palavra dessas
Talvez pudesse juntá-la ao brilho de mais uma luz
[que subitamente, como por magia, se apaga
oh! quero abraçar este momento e guardá-lo pra sempre comigo...]
Talvez pudesse fazer soltar um sorriso...

Uma pausa. Um silêncio. Um momento parado no tempo.
Dás por ti e o som já corre veloz novamente,
como se perseguisse o fim de um ponto de partida
que se quer interminável,
e jamais encontrado.

Mas as luzes emergem por entre a névoa,
surgem mais uma vez,
trazem consigo um sabor carinhoso a memórias,
recordações,
lembranças póstumas..
E deixam um cheiro doce que nos guia
e,inevitavelmente,
nos seduz.



Foto por Matilde B.

sábado, dezembro 09, 2006

De olhos bem fechados.


Onde menos esperei.
Quando menos esperava.
Senti a brisa quente da recordação abraçar-me.
Senti o sabor das memórias coloridas invadir-me.

Fechei os olhos.

Deixei o ritmo percorrer cada instante do meu ser.
Deixei o sabor de cada nota arrepiar a brancura da minha pele.
Deixei o meu corpo fluir na intensidade de uma dança.

Desejei agarrar a imortalidade daquele sentimento e perder-me com ele num tempo só nosso.

Volto a fechar os olhos.
E volto a dançar cada momento.

Volto a sentir o teu calor a respirar por entre as luzes que dançam connosco.
Rodo, rodopio, inspiro, expiro, agarro-te, solto-te, solto-me, soltamo-nos os dois.
Agarramo-nos os dois.
Olhamo-nos os dois.
Sorrimos os dois.
Perdemo-nos os dois.
Perdemo-nos um no outro. Perdemo-nos no nosso olhar.

E deixamo-nos envolver pela magia desta melodia.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Vazio.


Silêncio.

O barulho ensurdecedor do silêncio corta como o frio que faz lá fora. O calor dos sorrisos que me aqueciam fugiu quando aquela porta se fechou e os levou com ela. O calor dos sorrisos fugiu e deixou-me um quarto tão cheio, e ao mesmo tempo tão despido.

Recordo cada gesto, cada palavra. Recordo como o carinho abraçou uma almofada, como a ternura desfez uma cama. Recordo cada momento em que comecei a sentir o toque sorrateiro da saudade. Olho para este quarto tão cheio de nada e recordo.

Abraça-me.

Preciso de continuar a sentir o teu abraço. Preciso que olhes para mim só mais uma vez. Preciso que fiques aqui assim, junto a mim, o tempo que cabe dentro de uma eternidade.
Preciso que me adormeças vezes e vezes sem fim. Preciso de ouvir as nossas músicas contigo. Preciso da suavidade doce do teu toque. Preciso de te ouvir dizer, baixinho, ao meu ouvido, "gosto muito de ti". E preciso de to dizer a ti até as minhas palavras estarem roucas e não conseguirem mais ser ouvidas.

Abraça-me.

Porque me dói o vazio de ouvir este comboio a partir. Dói-me o vazio de ver essa porta a deslizar.
E é difícil atravessar a fugacidade com que se desvanece este momento. E ainda mais difícil ter que perceber que afinal há um fim quando só se quer voltar a agarrar o início.

Só mais uma vez. Abraça-me.
Porque é difícil demais largar a doçura da tua mão...





"Nobody said it was easy,
It's such a shame for us to part.
Nobody said it was easy,
No one ever said it would be this hard.

Oh take me back to the start."

domingo, dezembro 03, 2006

Saudades.



Ontem sonhei que era uma borboleta. Que levava em mim todas as cores do mundo. Que tinha nos pés todas as luzes da cidade. Que tinha nas asas a brisa morna de uma manhã quente de Inverno. Que voava por entre as gotas da chuva fustigante. Sonhei que tinha em mim o verdadeiro sentido de todas as coisas bonitas que nos fazem sorrir quando acordamos.

Então voei. Percorri cada minuto da tua pele. Senti cada pulsar do teu coração. Bati suavemente as minhas asas ao teu ouvido, num sussurro quente e doce. Sorri a cada sorriso teu. Deixei-me levar pelo rasto de magia que deixavas no ar enquanto me tentavas agarrar.
Ternamente.
Deixei-me levar. Deixei que me aconchegasses na palma das tuas mãos. Deixei que as tuas carícias tomassem conta de mim. Deixei-me enfeitiçar pelo brilho dos teus olhos, pelo sabor do teu abraço. Deixei-me arrepiar pela leveza de um beijo teu. Deixei-me arrebatar pela intensidade da tua presença.

E naquele momento, as saudades tomaram conta do meu vôo.
Agarraram-se ao bater das minhas asas.
Esconderam-se no ar que atravessei.
E escoltaram-me de volta à realidade...



"And I miss you when you're not around
I'm getting ready to leave the ground...

Oh you look so beautiful tonight
In the city of blinding lights..."

segunda-feira, novembro 27, 2006

Porto de abrigo.


Domingo.

Os primeiros raios de sol espalham-se lentamente. Espreitam pela janela e entram sorrateiramente. Mornos. Ainda aquecem. Ainda aconchegam aquele olhar solitário que procura, em vão, encontrar o rosto de um sonho que não passou disso mesmo.

Hoje, mais uma vez, acordaste sozinha. Diria mesmo abandonada. E ainda assim, carregada de memórias, carregada de cheiros, de emoções, de sentimentos, de vozes que procuram encontrar um refúgio no escuro de mais uma estrela que se apaga na imensidão da noite.
Timidamente, sorris. Mostras-te na tua vaidade de um azul-único-e-mágico, quase pareces soltar uma gargalhada provocadoramente doce. Procuras fazer alguém feliz nesse teu jeito de criança despreocupada que se recusa a seguir regras que entretanto se perderam com o tempo. Procuras seduzir-me com esse teu ar de ternura quente. Conheces-me melhor que ninguém. E sabes como gosto de me enroscar em ti, de me perder na suavidade do teu amparo.
Consigo gostar de ti quase tanto como invejo essa tua liberdade de coisa inerte e sem importância e no entanto, com tanto significado. Consigo gostar de ti quase tanto como consigo odiar este domingo. Porque ainda que seja um domingo de sol, um domingo de calor, há-de ser sempre também um domingo de dor. Porque me dói ter que acordar da magia de um sonho. Dói ter que dizer adeus a mais uma carícia e virar as costas. Doi ter que encarar mais um fim. Dói, sobretudo, ter que sentir que camas como tu foram feitas para se acordar na companhia da solidão...

Consigo gostar de ti quase tanto como te consigo odiar por seres tão doce e ao mesmo tempo tão amarga, por me dares tanto e me tirares ainda mais.

Mas és e sempre serás o meu porto de abrigo na imensidão deste mar azul que começa onde termina a cor de mais um horizonte.

domingo, novembro 26, 2006

November rain.


As imagens correm velozmente, atropelam-se na ânsia de completarem os cantinhos que restam de uma alma que suspira por mais um pouco desse mundo que sendo real, não passa de um sonho...
Deito-me aqui e deixo-me ficar. Sonho. E volto a sonhar. É tão melhor continuar a sonhar... Dói demais ter que partir, dói demais não poder ficar...
Agarro cada momento com a força que me fez sorrir e procurar um outro sorriso no brilho de um olhar, no aconchego de um abraço, na doçura de um toque. Deixo-me cativar e levar por aquele ar descontraído, por aquele ar divertido; por aquele outro ar despreocupado, por aquele outro ar misterioso... Gravo as melodias das recordações. Gravo o som de mais uma noite partilhada. De mais uma gargalhada. De mais uma palavra sussurrada ao ouvido.

E então chove. É Novembro e chove. Chove sem parar, chove incessantemente, chove violentamente. E os laços apertam-se para não deixar fugir o calor de mais uma carícia, de mais uma vontade de partilhar um gesto terno e genuíno... A saudade instala-se mesmo antes de uma partida que já fere, que teima em sobrevoar este céu colorido e este mar que juntos contemplámos e guardámos na memória das coisas doces. E a espontaneidade com que se proferem palavras e sentimentos sinceros não chega para transmitir a intensidade daquilo que nos une e que nos faz querer, cada vez mais, voltar a encontrar o calor em braços que se encontram e carinhosamente se envolvem.

domingo, novembro 12, 2006

Da minha janela.





Da minha janela alcanço o sonho de um mundo quente e pintado com as aguarelas da cor daquilo a que gosto de chamar felicidade. Agarro a brisa que me sacode os caracóis e por instantes, sinto que pertenço a um pedaço de universo construído só para me fazer soltar um sorriso...
E então fico assim, com aquele ar de quem já não se lembrava de como é bom sonhar, e deixo que as recordações doces escrevam mais uma página da minha história...

sexta-feira, novembro 03, 2006

Sexta-feira ao final da tarde.


"Gostas?", perguntas-me.
"Gosto.", respondo-te.

Gosto de acordar 10 minutos mais tarde,
de agarrar a manhã que [inesperadamente] não se levantou fria,
de espreitar pelo ombro, ver a espuma das ondas no mar
e saborear a doçura da luz que foge às nuvens cinzentas que carrregam o céu.
Gosto de te devolver os sorrisos que me dás,
de dançar o nosso tango sem tempo e sem lugar,
de me esconder no meu chapéu quando as primeiras gotas me tocam,
do cheiro de um café quente depois de um caminho molhado.

Gosto da perfeição discreta dos desenhos inacabados.
Gosto da imprecisão das linhas que se esbatem e se fundem em manchas.
Gosto de ver, de olhar, de sentir, e de gostar.


Gosto do barulho das folhas que surpreendem os meus pés,
do cheiro dos jardins que me acompanham a casa,
das cores no horizonte que consigo alcançar do meu quarto
e que adormecem um sol que timidamente fecha os olhos...

Sim. Gosto de ti.
E gosto especialmente da sexta-feira ao final da tarde.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Chá de maçã e canela



Às vezes gostava de conseguir apreciar o nascer do sol. Aquele que tantas vezes espreita no final da minha noite. Sorrir a cada sorriso que lança quando solta aquele brilho imenso de menino brincalhão... quando dança na minha janela.
Gostava de conseguir parar o tempo no minuto em que me tocas. No instante em que me sussurras ao ouvido. Na doçura com que me dizes "bom dia!". Na intensidade do calor com que me abraças. No momento em que olhas para mim como se não existisse mais nada nem ninguém no mundo.
Vem brincar comigo... Só esta madrugada. Dança comigo como se o chão em que caminhamos fosse feito de nuvens secretas que só nós conhecemos. Esconde-te aqui comigo só mais uma vez... e deixa-me sonhar embalada pelo teu carinho...

Vou-te fazer chá de maçã e canela.
E pintar as nossas nuvens coloridas na janela...

domingo, outubro 22, 2006

Black

Porque há dias em que dói,
há dias em que fere,
há dias em que só apetece rasgar as folhas da história que um dia se escreveu.
há dias em que só apetece largar tudo e fazer de conta que afinal não existe nada pra largar.
Há dias em que a recordação se enrosca nas mantas connosco,
há dias em que adormecemos com a almofada dos sentimentos vazia,
há dias em que o frio da chuva nos parece mais quente que a memória dos dias tristes.

Porque afinal há dias em que a dor chega sem avisar e nos canta a canção que mais nos fez, um dia, chorar.

"and twisted thoughts that spin round my head
I'm spinning, oh, I'm spinning
How quick the sun can, drop away
And now my bitter hands cradle broken glass
Of what was everything
All the pictures seared all been washed in black,
tattooed everything...

All the love gone bad
Turned my world to black
Tattooed all I see, all that I am, all I'll be...yeah...

Uh huh...uh huh...ooh...
I know someday you'll have a beautiful life,
I know you'll be the sun
In somebody else's sky, but why
Why, why can't it be, why can't it be mine..."


sexta-feira, setembro 29, 2006

Remendos...

Quero fechar a porta. Quero despejar a raiva e a angústia que não tiram o dedo da campainha. Começa a ser doloroso ser senhoria de um mundo de vazios que me prendem àquilo que quero esquecer.
Mas tu não deixas. Não sais do caminho. Continuas entre mim e entre aquilo que resta de mim.
Não consigo pensar. É incrível como consegues baralhar cada pedaço daquilo que tenho dentro de mim.
Fazes-me querer tanto tudo e ao mesmo tempo querer um universo cheio de nada.

Cheio de vento... cheio de bolas de sabão. Cheio daquilo que constrói os nossos sonhos e se solta no céu em gestos suaves e pausados.
Tenho esta mania de querer continuar a ser criança eternamente. Mesmo sabendo que continuarei a ser sempre alguém que não uma criança.
Gosto desta ingenuidade aparente que me dá o prazer de sentir a vida com novos abraços a cada momento. Mesmo sabendo que a realidade está apenas a um piscar de olhos de distância. A um toque da minha pele...

Dou por mim a recordar emoções contraditórias que um dia tomaram conta do balão que balançava no meu coração. E sinto-o rebentar mais uma vez... Discretamente. Como se quisesse que ninguém notasse no rasgão que maldosamente lhe fizeram. Impiedosamente.
Às vezes tenho pena do meu balão. Cheio de remendos.
Coso e volto a encher. E volto a coser... e a encher... Porque continuo a acreditar que um dia hei-de dar a volta ao mundo com o meu balão.
E aquele sorriso de criança volta a crescer no rubor dos meus lábios...

E então, de repente, a porta bate. Uma brisa sussurra-me ao pescoço e percorre cada arrepio do meu corpo.
Hoje sei que vou adormecer e sonhar com o sorriso que espalharei por esse céu pintado com bolas de neve. Com o companheiro das horas tristes solitárias, dos diálogos intermináveis com alguém que penso ser eu, mas não estou certa de ser.
Com a fénix que renasce das lágrimas e transforma a dor num doce bolo de morangos...

Amanhã. Hoje. Daqui a bocado. Ou terá sido ontem?
Esqueci-me.


[acordei...]

sábado, setembro 23, 2006

Hoje.

Hoje preciso não parar de escrever. Hoje preciso esquecer tudo aquilo que alguma vez vi, tudo aquilo que consegui sentir até aqui. Hoje preciso agarrar na borracha que fui construindo com os erros que fui cometendo e apagar o grande borrão que sem pedir licença, hoje se instalou na minha alma. Perder-me num mundo que vou deixando de reconhecer. Perder o controlo de tudo aquilo que até aqui pensei, ingénua e erradamente, controlar.

Escrever sem parar, escrever sem pensar, escrever sem querer, querer tudo aquilo que escrever...

Hoje preciso que as palavras saiam da ponta dos meus dedos como as gotas da chuva que resmunga lá fora, preciso sentir que voo por entre as letras que deixo soltar, que vou a todo o lado sem ir de facto a lado nenhum. Libertar tudo aquilo que tenho cá dentro e correr com todas as minhas forças para não me deixar alcançar. Fintar as desventuras que teimam em me agarrar.

Não quero ter medo. Estou tão farta de ter medo... tão farta de sentir o gosto da vida fugir-me por entre as lágrimas que me desgastam o doce da pele e que eu tento em vão voltar a conquistar. Tão farta de achar que a fraqueza voltará a vencer, quando sei bem que só eu lhe posso dar forças pra vingar. Tão farta de estar farta...

Procuro e torno a procurar, pergunto e torno a perguntar, perdi-me e voltei a perder-me. Caminho lentamente, mas o tempo voa e foge nas asas da dor que hoje mandei embora. Aquela que me fez ter medo. Aquela de que me fartei. Aquela que resolvi não deixar mais entrar.

Nunca mais.

Hoje quero começar tudo de novo. Quero esquecer todas as marcas que as mágoas deixaram em mim, quero esfregar todas as nódoas negras que me arrasaram o coração, quero arrancar todas as crostas das feridas que me queimaram por dentro. Quero regressar a tudo aquilo que um dia consegui abraçar quando acreditava que o conseguiria fazer.

Hoje quero acreditar.

quarta-feira, setembro 20, 2006

às vezes...

1.38 da manhã.
As teclas não param de tocar; saltam por entre as palavras doces que dançam na boca dos personagens daquela série que te faz recordar...
Mas o barulho dos lençóis interrompe-te o pensamento. E o murmúrio de quem sonha com outros barulhos...

Às vezes gostas de ficar a olhar. Páras no tempo por um mero instante e agarras cada segundo como se nada mais restasse. Vês-te. Sentas-te na sala de cinema e assistes ao filme da tua vida.
Dás por ti a imaginar como será estar na pele de outra pessoa. Daquela que se senta ao teu lado. Daquela que passa por entre a luz da projecção. E daquela outra que come pipocas.
Como será a vida vista pelos olhos dela? Como será o mundo pensado pelos pensamentos dela? E a vida? Como será a vida sentida pelos sentimentos dela?
As perguntas seguem ao longo daquela linha que brilha, desenhada no alcatrão. E as respostas? Essas, nunca as saberás.
Há coisas que foram feitas para serem simplesmente questionadas, nunca respondidas. Mas tu teimas em não acreditar.

Outras vezes gostas de esquecer. Gostas de acreditar que um dia as coisas possam ser diferentes. Gostas de pensar que talvez consigas libertar-te dos pesadelos e agarrar um novo mundo de frente.
Gostas de ficar a imaginar como seria colorir aquela parede sem medo que em seguida vá lá alguém pintá-la de novo de branco... e tu tenhas que recomeçar tudo pela enésima vez...
Gostas de viver nessa tua ingenuidade sem fim, que adormece a teu lado à noite e que te acorda quando menos esperas, e por vezes onde nunca pensaste sequer que ela pudesse entrar.

Voltas a questionar-te. Voltas a questionar. Nem essa doçura meio naif te arranca das infinitas perguntas que insistem em passear no teu pensamento. Queimam-te por dentro, rasgam os últimos pedaços de tecido de felicidade que tens dentro de ti.
E ainda assim, não tens coragem de fechar o baú. E elas resistem e persistem nas voltas perfeitas que dão ao teu coração...


Ou será que és tu que insistes em lhes abrir a porta?

sexta-feira, julho 21, 2006

Um resto de tudo...

Sentas-te e inclinas-te para a frente. As lágrimas caem. Correm na sua fúria de quem pede por liberdade. E no papel ficam os borrões de emoções que não conseguiste controlar...
Agarras o lápis mais uma vez. Tremes. Não queres, mas não consegues. Desistes de redesenhar a cor que te ilumina o sorriso... E então cedes. E deixas-te levar... Pra onde? Nem tu sabes.

Gostava de conseguir fazer rascunhos da vida como tu. Gostava de conseguir apagar as linhas a mais, vincar e enegrecer aquelas que merecem saltar do papel... Colorir pedaços da minha alma como se pinta uma aguarela, como se uma brisa suave soprasse por entre os pincéis e as tintas e os fizesse voar como magia...
Às vezes só quero esquecer que alguma vez pintei. Esquecer os movimentos do meu pulso, esquecer as dedadas na tela suja. Apagar as memórias do carvão que me ficou nas mãos. Os pós de uma dor que penetrou a pele... e o óleo colorido. A terebentina...
Os cheiros trazem-me recordações. Entram pela fresta da janela sem pedir licença, e escondem-se por entre as ondas azuis das cortinas. Correm pelas paredes, galgam o chão, a cama, a estante. Esbarro com eles quando abro a porta. E choro...
Acho que já me esqueci que um dia consegui realmente ser feliz. Na altura achava que não. E se calhar, não o fui mesmo. Já não sei... Mas que esqueci, esqueci. Esqueci-me da simplicidade de correr na areia molhada, da fugacidade dos mergulhos na espuma das ondas... Esqueci-me da paciência que erguia castelos na areia... esqueci-me das gargalhadas despreocupadas, esqueci-me dos dias inteiros a cheirar o calor e a água do duche ao final do dia...

E agora, o que te resta?
As lágrimas aquecem-te a dor e deixam um odor salgado na tua pele.
Lutas, em vão, contra os fantasmas que dançam à tua frente. Que brincam. Que sorriem...
Pousas o lápis. Levantas-te. Lentamente, desvias as cortinas e abres a janela. E deixas que a maresia te invada... Com o amanhecer, ela há-de ir embora. E há-de levar os fantasmas. As lágrimas. A dor.
Sim. Tu sabes.
Ela há-de ir embora.

sexta-feira, julho 07, 2006

Dedicado a ti, minha amiga...

Pedaços de luz, pedaços de chão,
pedaços de vida que flutuam por entre arcadas divididas,
sombras distraídas,
cores enternecidas...
Pedaços que envolves e devolves,
que sonhas e concretizas,
que amas e voltas a amar.

Agarras a brisa que percorre os teus dedos
Soltas um sorriso meigo,dás-te à vida por um instante
brincas com as voltas incessantes da chuva que cai
e captas certezas incertas de momentos
que só tu sabes alcançar...

Um olhar, um toque, um silêncio.
Espreitas por entre portas entreabertas,
esconderijos secretos,
sopros de uma solidão desconhecida
que encaras de peito aberto
e transformas com cada parte do teu ser...

Fazes parte.
Parte de um sonho colorido que dança
na luz que o teu sorriso emana.
Parte de um doce filme que nos toca,
nos emociona,
nos faz amar
e nos faz querer ter-te,
sempre,
aqui.



Passagem obrigatória pelos olhos de uma artista

Under the darkest sky...

A noite por vezes tem um brilho especial que pouca gente consegue compreender. Um brilho que poucos conseguem alcançar, que só aqueles que se entregam à vida de coração aberto conseguem descortinar por entre as paredes de escuridão que ela cria à nossa volta... A noite tem o poder de criar momentos que pintam a nossa alma com pinceladas tão diferentes e no entanto, com algo tão único que nos faz olhar para cada uma delas e achar que há qualquer coisa que as une... como se a noite fosse esse elemento unificador que nos dá o ar para respirar fundo mais uma vez e começar de novo ou para ganhar fôlego para mais um soluço de um choro dorido, descontrolado. Ao mesmo tempo que nos toca na alma e faz correr um sopro quente por dentro de nós, consegue também dissolver o sal que nos materializa por entre lágrimas indefesas, inseguras e perdidas...
Às vezes parece querer apenas brincar connosco... esconder-se por entre os troncos centenários de um qualquer bosque, saltar as ondas do mar e fugir por entre a espuma que borbulha, e rir-se, rir-se que nem uma perdida, soltar gargalhadas desmedidas e tresloucadas... Outras vezes ampara a nossa queda com o seu manto de estrelas, como se fosse a rede deste trapézio que é a vida...
Mas nada é em vão. Tudo flui à nossa volta numa harmonia escondida, porém geometricamente estudada... Conjugam-se momentos, tempos, ideias, reflexões, sons, sentimentos, cheiros, lembranças, vazios, toques, emoções... Perfis do trilho que a noite tenta iluminar para cada um de nós... E muitas vezes, por entre esta panóplia de elementos que se fundem e intersectam, que se dão e se partilham, surge um pequeno mundo alienado, especial, um canto quentinho e cheio de doçura, um porto seguro, o telheiro que abriga o movimento das palavras pelos nossos lábios, pelas nossas mãos, pelas nossas almas... E nesse mundinho criamos a nossa muralha, a nossa defesa; alcançamos felicidades almejadas e que de outra maneira nunca respirariam nos nossos poros; fazemos nascer rios de tristeza que logo alcançam o mar...
E então o aconchego chega. Aquilo que tantas vezes não fazia sentido, ganha um significado especial e revela-se-nos como o brilho de uma estrela nunca antes visto. E aquilo que sempre fez sentido cresce, ganha vida e devolve-nos vida, quase não cabendo no nosso peito, quase sendo perfeito de mais para coexistir na nossa essência...