quarta-feira, setembro 20, 2006

às vezes...

1.38 da manhã.
As teclas não param de tocar; saltam por entre as palavras doces que dançam na boca dos personagens daquela série que te faz recordar...
Mas o barulho dos lençóis interrompe-te o pensamento. E o murmúrio de quem sonha com outros barulhos...

Às vezes gostas de ficar a olhar. Páras no tempo por um mero instante e agarras cada segundo como se nada mais restasse. Vês-te. Sentas-te na sala de cinema e assistes ao filme da tua vida.
Dás por ti a imaginar como será estar na pele de outra pessoa. Daquela que se senta ao teu lado. Daquela que passa por entre a luz da projecção. E daquela outra que come pipocas.
Como será a vida vista pelos olhos dela? Como será o mundo pensado pelos pensamentos dela? E a vida? Como será a vida sentida pelos sentimentos dela?
As perguntas seguem ao longo daquela linha que brilha, desenhada no alcatrão. E as respostas? Essas, nunca as saberás.
Há coisas que foram feitas para serem simplesmente questionadas, nunca respondidas. Mas tu teimas em não acreditar.

Outras vezes gostas de esquecer. Gostas de acreditar que um dia as coisas possam ser diferentes. Gostas de pensar que talvez consigas libertar-te dos pesadelos e agarrar um novo mundo de frente.
Gostas de ficar a imaginar como seria colorir aquela parede sem medo que em seguida vá lá alguém pintá-la de novo de branco... e tu tenhas que recomeçar tudo pela enésima vez...
Gostas de viver nessa tua ingenuidade sem fim, que adormece a teu lado à noite e que te acorda quando menos esperas, e por vezes onde nunca pensaste sequer que ela pudesse entrar.

Voltas a questionar-te. Voltas a questionar. Nem essa doçura meio naif te arranca das infinitas perguntas que insistem em passear no teu pensamento. Queimam-te por dentro, rasgam os últimos pedaços de tecido de felicidade que tens dentro de ti.
E ainda assim, não tens coragem de fechar o baú. E elas resistem e persistem nas voltas perfeitas que dão ao teu coração...


Ou será que és tu que insistes em lhes abrir a porta?