sábado, dezembro 16, 2006

Lights will guide you home.


Luzes intermináveis brilham em
silêncios incontornáveis
próprios de quem tem medo.
Ao fundo, o mundo parece fugir por entre
encostas esguias,
estradas infinitas,
recantos sem fim.

Um sopro de luz envolve-me; o toque de uma voz recorda-me
que por vezes aquilo que é mais natural
rege-se pela anti-naturalidade constante na sua presença...
Desdobra-se em momentos sem nexo, palavras fulgurantes que
surgem em catadupa sem terem um significado concreto,
mas que significam tanto para quem as vive e as sente...

Talvez pudesse agarrar uma palavra dessas
Talvez pudesse juntá-la ao brilho de mais uma luz
[que subitamente, como por magia, se apaga
oh! quero abraçar este momento e guardá-lo pra sempre comigo...]
Talvez pudesse fazer soltar um sorriso...

Uma pausa. Um silêncio. Um momento parado no tempo.
Dás por ti e o som já corre veloz novamente,
como se perseguisse o fim de um ponto de partida
que se quer interminável,
e jamais encontrado.

Mas as luzes emergem por entre a névoa,
surgem mais uma vez,
trazem consigo um sabor carinhoso a memórias,
recordações,
lembranças póstumas..
E deixam um cheiro doce que nos guia
e,inevitavelmente,
nos seduz.



Foto por Matilde B.

sábado, dezembro 09, 2006

De olhos bem fechados.


Onde menos esperei.
Quando menos esperava.
Senti a brisa quente da recordação abraçar-me.
Senti o sabor das memórias coloridas invadir-me.

Fechei os olhos.

Deixei o ritmo percorrer cada instante do meu ser.
Deixei o sabor de cada nota arrepiar a brancura da minha pele.
Deixei o meu corpo fluir na intensidade de uma dança.

Desejei agarrar a imortalidade daquele sentimento e perder-me com ele num tempo só nosso.

Volto a fechar os olhos.
E volto a dançar cada momento.

Volto a sentir o teu calor a respirar por entre as luzes que dançam connosco.
Rodo, rodopio, inspiro, expiro, agarro-te, solto-te, solto-me, soltamo-nos os dois.
Agarramo-nos os dois.
Olhamo-nos os dois.
Sorrimos os dois.
Perdemo-nos os dois.
Perdemo-nos um no outro. Perdemo-nos no nosso olhar.

E deixamo-nos envolver pela magia desta melodia.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Vazio.


Silêncio.

O barulho ensurdecedor do silêncio corta como o frio que faz lá fora. O calor dos sorrisos que me aqueciam fugiu quando aquela porta se fechou e os levou com ela. O calor dos sorrisos fugiu e deixou-me um quarto tão cheio, e ao mesmo tempo tão despido.

Recordo cada gesto, cada palavra. Recordo como o carinho abraçou uma almofada, como a ternura desfez uma cama. Recordo cada momento em que comecei a sentir o toque sorrateiro da saudade. Olho para este quarto tão cheio de nada e recordo.

Abraça-me.

Preciso de continuar a sentir o teu abraço. Preciso que olhes para mim só mais uma vez. Preciso que fiques aqui assim, junto a mim, o tempo que cabe dentro de uma eternidade.
Preciso que me adormeças vezes e vezes sem fim. Preciso de ouvir as nossas músicas contigo. Preciso da suavidade doce do teu toque. Preciso de te ouvir dizer, baixinho, ao meu ouvido, "gosto muito de ti". E preciso de to dizer a ti até as minhas palavras estarem roucas e não conseguirem mais ser ouvidas.

Abraça-me.

Porque me dói o vazio de ouvir este comboio a partir. Dói-me o vazio de ver essa porta a deslizar.
E é difícil atravessar a fugacidade com que se desvanece este momento. E ainda mais difícil ter que perceber que afinal há um fim quando só se quer voltar a agarrar o início.

Só mais uma vez. Abraça-me.
Porque é difícil demais largar a doçura da tua mão...





"Nobody said it was easy,
It's such a shame for us to part.
Nobody said it was easy,
No one ever said it would be this hard.

Oh take me back to the start."

domingo, dezembro 03, 2006

Saudades.



Ontem sonhei que era uma borboleta. Que levava em mim todas as cores do mundo. Que tinha nos pés todas as luzes da cidade. Que tinha nas asas a brisa morna de uma manhã quente de Inverno. Que voava por entre as gotas da chuva fustigante. Sonhei que tinha em mim o verdadeiro sentido de todas as coisas bonitas que nos fazem sorrir quando acordamos.

Então voei. Percorri cada minuto da tua pele. Senti cada pulsar do teu coração. Bati suavemente as minhas asas ao teu ouvido, num sussurro quente e doce. Sorri a cada sorriso teu. Deixei-me levar pelo rasto de magia que deixavas no ar enquanto me tentavas agarrar.
Ternamente.
Deixei-me levar. Deixei que me aconchegasses na palma das tuas mãos. Deixei que as tuas carícias tomassem conta de mim. Deixei-me enfeitiçar pelo brilho dos teus olhos, pelo sabor do teu abraço. Deixei-me arrepiar pela leveza de um beijo teu. Deixei-me arrebatar pela intensidade da tua presença.

E naquele momento, as saudades tomaram conta do meu vôo.
Agarraram-se ao bater das minhas asas.
Esconderam-se no ar que atravessei.
E escoltaram-me de volta à realidade...



"And I miss you when you're not around
I'm getting ready to leave the ground...

Oh you look so beautiful tonight
In the city of blinding lights..."