segunda-feira, novembro 27, 2006

Porto de abrigo.


Domingo.

Os primeiros raios de sol espalham-se lentamente. Espreitam pela janela e entram sorrateiramente. Mornos. Ainda aquecem. Ainda aconchegam aquele olhar solitário que procura, em vão, encontrar o rosto de um sonho que não passou disso mesmo.

Hoje, mais uma vez, acordaste sozinha. Diria mesmo abandonada. E ainda assim, carregada de memórias, carregada de cheiros, de emoções, de sentimentos, de vozes que procuram encontrar um refúgio no escuro de mais uma estrela que se apaga na imensidão da noite.
Timidamente, sorris. Mostras-te na tua vaidade de um azul-único-e-mágico, quase pareces soltar uma gargalhada provocadoramente doce. Procuras fazer alguém feliz nesse teu jeito de criança despreocupada que se recusa a seguir regras que entretanto se perderam com o tempo. Procuras seduzir-me com esse teu ar de ternura quente. Conheces-me melhor que ninguém. E sabes como gosto de me enroscar em ti, de me perder na suavidade do teu amparo.
Consigo gostar de ti quase tanto como invejo essa tua liberdade de coisa inerte e sem importância e no entanto, com tanto significado. Consigo gostar de ti quase tanto como consigo odiar este domingo. Porque ainda que seja um domingo de sol, um domingo de calor, há-de ser sempre também um domingo de dor. Porque me dói ter que acordar da magia de um sonho. Dói ter que dizer adeus a mais uma carícia e virar as costas. Doi ter que encarar mais um fim. Dói, sobretudo, ter que sentir que camas como tu foram feitas para se acordar na companhia da solidão...

Consigo gostar de ti quase tanto como te consigo odiar por seres tão doce e ao mesmo tempo tão amarga, por me dares tanto e me tirares ainda mais.

Mas és e sempre serás o meu porto de abrigo na imensidão deste mar azul que começa onde termina a cor de mais um horizonte.

domingo, novembro 26, 2006

November rain.


As imagens correm velozmente, atropelam-se na ânsia de completarem os cantinhos que restam de uma alma que suspira por mais um pouco desse mundo que sendo real, não passa de um sonho...
Deito-me aqui e deixo-me ficar. Sonho. E volto a sonhar. É tão melhor continuar a sonhar... Dói demais ter que partir, dói demais não poder ficar...
Agarro cada momento com a força que me fez sorrir e procurar um outro sorriso no brilho de um olhar, no aconchego de um abraço, na doçura de um toque. Deixo-me cativar e levar por aquele ar descontraído, por aquele ar divertido; por aquele outro ar despreocupado, por aquele outro ar misterioso... Gravo as melodias das recordações. Gravo o som de mais uma noite partilhada. De mais uma gargalhada. De mais uma palavra sussurrada ao ouvido.

E então chove. É Novembro e chove. Chove sem parar, chove incessantemente, chove violentamente. E os laços apertam-se para não deixar fugir o calor de mais uma carícia, de mais uma vontade de partilhar um gesto terno e genuíno... A saudade instala-se mesmo antes de uma partida que já fere, que teima em sobrevoar este céu colorido e este mar que juntos contemplámos e guardámos na memória das coisas doces. E a espontaneidade com que se proferem palavras e sentimentos sinceros não chega para transmitir a intensidade daquilo que nos une e que nos faz querer, cada vez mais, voltar a encontrar o calor em braços que se encontram e carinhosamente se envolvem.

domingo, novembro 12, 2006

Da minha janela.





Da minha janela alcanço o sonho de um mundo quente e pintado com as aguarelas da cor daquilo a que gosto de chamar felicidade. Agarro a brisa que me sacode os caracóis e por instantes, sinto que pertenço a um pedaço de universo construído só para me fazer soltar um sorriso...
E então fico assim, com aquele ar de quem já não se lembrava de como é bom sonhar, e deixo que as recordações doces escrevam mais uma página da minha história...

sexta-feira, novembro 03, 2006

Sexta-feira ao final da tarde.


"Gostas?", perguntas-me.
"Gosto.", respondo-te.

Gosto de acordar 10 minutos mais tarde,
de agarrar a manhã que [inesperadamente] não se levantou fria,
de espreitar pelo ombro, ver a espuma das ondas no mar
e saborear a doçura da luz que foge às nuvens cinzentas que carrregam o céu.
Gosto de te devolver os sorrisos que me dás,
de dançar o nosso tango sem tempo e sem lugar,
de me esconder no meu chapéu quando as primeiras gotas me tocam,
do cheiro de um café quente depois de um caminho molhado.

Gosto da perfeição discreta dos desenhos inacabados.
Gosto da imprecisão das linhas que se esbatem e se fundem em manchas.
Gosto de ver, de olhar, de sentir, e de gostar.


Gosto do barulho das folhas que surpreendem os meus pés,
do cheiro dos jardins que me acompanham a casa,
das cores no horizonte que consigo alcançar do meu quarto
e que adormecem um sol que timidamente fecha os olhos...

Sim. Gosto de ti.
E gosto especialmente da sexta-feira ao final da tarde.